Passatempos:

O Desertor - Daniel Silva [Opinião]


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O Desertor
Até onde pode ir para salvar uma dívida de sangue?
de Daniel Silva  

Edição/reimpressão: Janeiro de 2010
Editor: Bertrand Editora
Páginas: 448
ISBN: 9789722522182
Colecção: Grandes Romances

SinopseSeis meses após o dramático final de Regras de Moscovo, Gabriel Allon regressa à lua-de-mel com Chiara e ao restauro de uma peça setecentista do Vaticano. Mas a sua paz é efémera.
De Londres chega a notícia de que Grigori Bulganov, espião e desertor russo que lhe salvou a vida em Moscovo, desapareceu sem deixar rasto. Nos dias que se seguem, Gabriel e a sua equipa travarão um duelo mortal com Ivan Kharkov, um dos homens mais perigosos do mundo. Confrontado com a possibilidade de perder a coisa mais importante da sua vida, Gabriel será posto à prova de maneiras inconcebíveis até então. E nunca mais será o mesmo.
Com um enredo surpreendente e um conjunto de personagens inesquecíveis, O Desertor é o thriller mais explosivo do ano e o melhor livro de Daniel Silva até à data.



Ponto de Vista:
“Na verdade, em certas alturas do dia e com a luz e as condições meteorológicas apropriadas, podia até imaginar-se que não havia nenhuma coisa chamada aquecimento global, que não havia nenhuma guerra no Iraque nem no Afeganistão, nenhuma crise financeira mundial, nem qualquer possível ameaça a pairar algures sobre o círculo de montanhas protectoras.”

Bom, voltando aos policiais, mais concretamente aos thrillers
Desta vez, a escolha recaiu sobre o autor Daniel Silva, pois há imenso tempo que queria ler algo deste autor com raízes açoreanas e que já conquistou uma legião de fãs, à qual também eu estou prestes a juntar-me…

Infelizmente, e apesar de ser feita uma breve referência na sinopse, desconhecia que este último livro do autor viesse em seguimento do anterior – As Regras de Moscovo, e enquanto nalguns casos, as histórias mesmo com ligação acabam por ser independentes, neste caso é precisamente o oposto, e apesar da grande habilidade de Daniel Silva com as palavras, o certo é que existem partes em que não conseguimos sentir o verdadeiro peso das acções porque elas estão a ser vividas em sequência de algo que já aconteceu anteriormente. E, nesse aspecto tenho imensa pena de não ter lido As Regras de Moscovo, para sentir a verdadeira emoção de O Desertor.

“Os veteranos gostam de dizer que a vida de um agente operacional do Departamento se faz de viagens constantes e de um tédio embrutecedor, interrompido por interlúdios de puro terror.”

Esta não é uma história simples em que facilmente entramos nela e percebemos o que está em jogo, andamos entre o passado e o futuro, e encontramos personagens ricas, cheias de personalidade e com capacidades de que só alguns são dotados, e entre os quais se destaca Gabriel Allon, um filho de sobreviventes do Holocausto, artista e restaurador talentoso, assassino e espião, que tenta reconstruir a sua vida após a morte do seu filho num atentado que acabou por também vitimizar a sua primeira mulher, internada actualmente numa clínica psiquiátrica.   

“Choramos os mortos e guardamo-los no coração. Mas vivemos as nossas vidas.”

O que Gabriel pretende é deixar as Operações Especiais, e começar uma nova vida ao lado de Chiara, dedicando-se apenas ao que lhe dá especial prazer fazer – a pintura.
Só que isso está muito longe de vir a acontecer, pois surge-lhe uma nova missão que não pode recusar, recuperar o homem que lhe salvou a vida e a quem fez uma promessa que pretende cumprir a todo o custo – o desertor russo Grigori Bulganov, que após se estabelecer em Inglaterra desaparece de forma bastante controversa.
É a partir daqui que os serviços secretos mais temidos e respeitados do mundo entram em acção numa corrida contra o tempo, em que um minuto poderá significar a perda de vidas…

“Ao contrário das pessoas, os números nunca mentiam. E os números não tinham grande aspecto.”

Mas Gabriel terá de enfrentar um dos maiores inimigos de que há memória, e com quem já se cruzou no passado – Ivan Kharkov, um homem sem escrúpulos, associado à máfia russa e à sombra do KGB, que quer a qualquer custo destruir a vida daquele que um dia se cruzou no seu caminho, o roubou e lhe levou a mulher e os filhos.

“Quando marcamos alguém, essa pessoa morre. E os russos também costumam ser assim. São uns fanáticos no que toca ao planeamento e à preparação.”

A situação começa a ganhar contornos mais pessoais, quando Gabriel percebe que Ivan tem em seu poder Chiara, e nesse instante percebemos a verdadeira essência deste lendário assassino israelita, que no meio da amargura e do sofrimento pela possibilidade de a qualquer momento ver a sua vida a desmoronar novamente, reúne forças para alcançar um único objectivo: recuperar a sua mulher e fazer desaparecer todos aqueles que estão envolvidos neste jogo de ódio e vingança.     

Com uma escrita cuidada mas frontal e com um vasto conhecimento de vivências e costumes, Daniel Silva leva-nos a viajar por grande parte da Europa, e a conhecer e percorrer os recantos mais sombrios da cidade de Moscovo, assim como nos mostra uma grande (e talvez a pior) parte da história da própria Rússia desde sempre mergulhada em questões políticas e interesses económicos, em detrimento do bem-estar do povo.

“O povo russo está calado há demasiado tempo. O regime tem utilizado esse silêncio como uma justificação para esmagar qualquer aparência de democracia e impor uma forma de totalitarismo moderado.”

Uma história que nos proporciona momentos de elevada apreensão, incompreensão, revolta e, ao mesmo tempo, de grande lealdade, união, amizade e amor pelos seus e por tudo aquilo em que acreditam sejam ideologias, ética, justiça ou o seu próprio país.

“A realidade é um estado de espírito, pensou. A realidade pode ser aquilo que muito bem se quiser que ela seja.”

E, apesar de não ser particularmente adepta de questões que envolvem espionagem, este livro conseguiu deixar-me num misto de emoções e pensamentos, e teve a capacidade de me fazer sentir, por algum tempo, deslocada do mundo real.
Fica, sem dúvida, a vontade de repetir a experiência.


Em estrelas: 4¸.•☆



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