Passatempos:

Na Senda da Memória... - Sónia Cravo [Opinião]


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Na Senda da Memória...
de Sónia Cravo

Edição/reimpressão: Setembro de 2011
Editor: Esfera do Caos
Páginas: 160
ISBN: 978-989-680-043-7
Colecção: Esfera Contemporânea, nº 29

Sinopse“Sónia Cravo surge agora com uma narrativa surpreendente a todos os títulos: original quer a nível do tema central e dos motivos que lhe dão consistência e com­plexidade, quer a nível da sua riqueza vocabular, tão inusual que deixa quem lê suspenso entre o arcaísmo e o neo­lo­gismo, entre o achado escritural e o acaso tipográfico (tão joyceano), fazendo a frase explo­dir perante os nossos olhos suspensos. E isto acontece quase continuamente, num ritmo que não deixa sossegar o mais prevenido dos leitores. (…) Mateus, o narrador de toda esta estória de que é personagem nuclear, começa por nos surgir como alguém que não vê senão sexo em cada mulher que o rodeia, e disso faz obsessão central do seu dia-a-dia; mas que, por um acaso que a seu tempo o leitor des­cobrirá, vê-se obrigado, entre dois assassinatos que bali­zam os acontecimentos, a enve­redar por caminhos e a viver situações de todo inusitadas, num terror constante em que «o silêncio multiplica ideias» que o vão dilacerando. (…) Eis um texto que, a todos os níveis, surpreenderá o leitor. E como uma boa estória (um bom romance aberto) é aquela que, no fim, nos confronta com múltiplos possíveis horizontes, assim acon­tece aqui: «E no silêncio ouço-me, há uma voz que sussurra: espera, espera só mais um pouco.» Espera: paciência e esperança. Que futuro estará reservado a Mateus?” | José Ferraz Diogo | Excerto das Palavras de abertura


Ponto de Vista: Felizmente os autores nacionais estão a conseguir emergir e chegar até nós leitores, e apesar das minhas leituras serem pautadas essencialmente por autores estrangeiros se houver uma oportunidade de pegar num livro realmente português é com satisfação que o faço.

Na Senda da Memória… vamos encontrar Mateus, um homem a viver já nos quarenta, divorciado e bem sucedido nos negócios, mas um amante inveterado, que numa fuga desencadeada por um encontro furtivo com uma mulher casada, e em sequência, a estranha morte do seu amigo, se vê embrenhado em devaneios e pensamentos difusos.


“Pus a hipótese, murmúrios de mim para mim, de estar preso a um sonho hediondo, meras ameaças irreais, e tudo o que tinha de fazer era conseguir acordar.”

E, é através da sua própria introspecção que viajamos pelos caminhos da memória, onde causas e valores são ponderados como se numa segunda oportunidade da vida tudo pudesse ser feito de outra forma.

“A partir dali, deixei de me sentir assassino confesso em hora de julgamento e achei-me, diante daquele público agora sedento e concentrado, um narrador de histórias, viajando, por única exigência da alma arrependida, pelo seu próprio passado.”

Depois de passado o período de vários dias, enclausurado numa mina desactivada na serra, e em que acreditou que a morte viria reclamar o seu corpo, duas almas benevolentes o socorreram. Sentindo-se na obrigação de retribuir o gesto, acaba por se envolver na vida deste tio idoso e da sua sobrinha Laura, pessoas humildes que vivem apenas do trabalho duro no campo, e que carregam cicatrizes profundas da vida. Ao mesmo tempo, Mateus vai sofrendo uma renovação de sentimentos, pois Laura, com a sua beleza genuína irá ter nele um efeito diferente de todas as outras mulheres com quem já esteve…

“Laura ficaria ao meu alcance. A distância é obstáculo que vai forçando ao esquecimento, e esquecê-la significaria desquerer o sonho.”

Só que uma nova morte surge no seu caminho, e mais uma vez, serão muitas as questões a assola-lo, mas desta vez com as suas faculdades recuperadas conseguirá alcançar grande parte das respostas.

Sónia Cravo possui uma escrita que transparece a influência da poesia e que, de uma forma intrincada, nos faz perder num mundo de palavras cheias de significado que só no seu todo podem ser entendidas verdadeiramente, e a história que construiu é essencialmente para despertar consciências, para levar o leitor a reflectir sobre si próprio e sobre o valor dos actos.

Não se pode dizer que seja um livro acessível a todos, pois está muito para além do romance, o seu carácter é essencialmente introspectivo e, por isso, é necessário ter alguma abertura de espírito para alcançar a mensagem que a autora se propôs a passar e que procura levar o leitor a chegar ao fundo do ser e às suas próprias limitações.


“Quem somos, quando nos esquecemos de nós próprios?”

Em estrelas: 3*


Sobre a Autora:


» Sónia Cravo nasceu em Espanha, em 1977, de pais portugueses. Era ainda criança quando a família regressou ao nosso país.
» O seu compromisso literário começa, desde muito cedo, com uma incursão pela poesia. “Assombra-me, desde a juventude, essa necessidade de escrever. A ficção surge como resultado dum processo de aceitação e amadurecimento. Esta obra encerra uma etapa e inaugura um percurso.”
» Capaz duma narrativa original, orquestrada com beleza e inteligência, diz a autora: “A minha literatura não pretende estar na moda, sim desafiar a actual tendência de mercado.”

» A sua página pessoal: Sónia Cravo - Facebook

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