Passatempos:

Resultado do Desafio Literário “Breve História de Amor“ [Asa]


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Bom, chega finalmente o dia de revelar o grande vencedor do desafio literário proposto pela ASA em parceria com o autor Tiago Rebelo, e com o apoio de vários blogues literários, entre os quais o Clorofórmio do Espírito.

Uma Breve História de Amor foi o mote lançado e a adesão superou as expectativas já que foram recebidos pela editora 83 textos, dos quais se conseguiu chegar a uma shortlist de 11 textos, depois de feita a selecção inicial. E, foi na sexta-feira, dia 10 de Fevereiro, que se reuniu, na livraria LeYa na Barata, em Lisboa, o “júri”Na reunião participaram e votaram o Tiago Rebelo, a Fernanda Carvalho (As Leituras da Fernanda), a Sónia Areia (Esmiuça o Livro), a Marta Pereira (Clorofórmio do Espírito), a Cristina Delgado (O tempo entre os meus livros), a Ângela Guilherme (Tantos livros Tão pouco tempo), a Márcia Balsas (Planeta Márcia), a Joana Gonzalez (Histórias de Elphaba), a Patrícia Pecegueiro (Pedacinho Literário), o Marco Caetano (Conspiração das Letras). Não puderam estar presentes mas votaram por email os responsáveis pelos Blogs “My Imaginarium”, “Marcador de Livros”, “Refúgio dos livros”, “d311nh4” e “Mil estrelas no colo”, e ainda a editora Maria Piedade Ferreira. do concurso para eleger a história vencedora.

Numa votação unânime, o texto vencedor sobressaiu dos demais pela sua escrita cuidada e pela originalidade, merecendo, sem dúvida, o primeiro lugar.

A autora do texto vencedor é Marlene Ferraz que escreveu O Tempo é um Absurdo, e que pode agora ser lido por todos. Muitos Parabéns! E obrigada por nos contemplar com esta breve história de amor tão peculiar.


«O Tempo é um Absurdo»

-Fonte-

"Ficou espantado quando abriu o Livro do Desassossego e, de dentro dele, cai um bilhete com uma caligrafia tão mecanizada e dura que em nada avisava o que estaria escrito.

Desassossego-me, também. Aonde estará esse amor que nos faz mais cobardes mas inteiros? Espero. Espero-te. Ofélia


A claridade do papel fazia adivinhar que teria sido escrevinhado em tempos já modernos. Talvez ontem, até. Dedicou-se à leitura do texto durante dias, mordido por uma curiosidade rara. Não é propriamente crente em coincidências mas, antes de entregar o livro à bibliotecária, enfiou um outro bilhete.

Aconselho a sua alma aflita a ler Criação do Mundo, do respeitável Torga, para que encontre o amor que procura nas coisas mais simples. Nem só os homens sabem dar amor. Também a chuva e as árvores. É um amor mais sensato, mas não menos inteiro. José

Curiosamente, a refutação veio breve, no livro sugerido pela mão masculina.

É antiga a dor do amor entre homens e mulheres, amor esse que nada substitui. Tens coração dentro de ti? Aconselho-te os poemas do Livro das Mágoas, da Florbela Espanca. Ofélia

José procurou o livro da poetisa no dia imediato. Mesmo antes de acabar a leitura dos trinta e seis sonetos, quis falar por escrito. Desejou que a bibliotecária não desse conta do bilhete e o considerasse lixo vulgar dos leitores desatentos.

Estimada Ofélia, é o coração um lugar grande. Sofro também nessa procura, mas o amor é mais do que um talão de lotaria. Leia Ensaio sobre a Cegueira, do nosso laureado. Sempre, José

Ela respondeu com o intervalo de quatro dias.

Inspiras-me. Desafio-te a nos encontrarmos, aqui. Ao começo da tarde do primeiro dia da semana, estarei na sala das revistas, na primeira cadeira pelos ponteiros do relógio. Tu estarás na terceira. Falaremos se o coração assim mandar. Tua, Ofélia

Ficou nervoso, as mãos trémulas. Esteve dias sem ir à biblioteca, interrompido entre a vontade e o medo. Mas, no primeiro dia da semana, sentou-se na terceira cadeira pelos ponteiros do relógio. Com uns aparelhos de ouvir música nos ouvidos, uma rapariga com olhos pintados de preto. Não teria mais de quinze anos. Agitada, a mascar uma chiclete, batia com as sapatilhas dum rosa forte no chão, prolongada por uns jeans justos e rompidos. José estava com o melhor fato, comprado há quase cinquenta anos. Boa fazenda, ainda firme. Os sapatos escovados, as meias de domingo. Na cabeça, o panamá pardo. Encostada à cadeira, a bengala. A rapariga olhou-o com incómodo. Talvez pensasse que estaria aquele homem a ocupar o lugar do esperado José. Esperaram os dois. Em vão. Porque a Ofélia não veio nenhum amor poético nem a José um amor maduro. A rapariga foi a primeira a levantar-se. Só nesse momento José pode ver que nas mãos dela estava o Livro do Desassossego. Ofélia, um rebento. Ofélia, um impedimento. Levantou-se, também. Ainda vazio, mas acostumado. Disse ainda a quem quisesse ouvir. O tempo é um absurdo. E desandou, sem poder curar o coração dela."

««»»

Da minha parte agradeço a todos os participantes assim como à editora ASA (LeYa) e ao escritor Tiago Rebelo por me terem proporcionado a oportunidade de fazer parte deste júri, que muito me honrou.
Resta-me aguardar por mais iniciativas do género e desejar que todos aqueles que tenham vontade de escrever o façam e que se permitam dar a conhecer.

»» E que o amor seja mais que uma breve história… neste dia que é de todos aqueles que conhecem o seu significado.

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